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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Resenha de: "O Habitat Humano: O Paraíso Criado", por Heber Carlos de Campos




CAMPOS, Heber Carlos de. O Habitat Humano: O Paraíso Criado. São Paulo: Hagnos, 2011. 172 p.

Autor da resenha:
Hélio Sales[1]

Rev. Dr. Heber Carlos de Campos é um respeitado ministro presbiteriano e autor brasileiro. Ele é PhD. em teologia sistemática pelo Concordia Theological Seminary, Saint Louis, Missouri, EUA, e possui várias obras nesta área, mais especificamente em cristologia e em teontologia. As suas obras de maior destaque são O Ser de Deus e Seus Atributos de 1999, A Providência de Deus e Sua Realização Histórica de 2001, As Duas Naturezas do Redentor de 2004, A união das naturezas do Redentor de 2005, A humilhação do Redentor, Encarnação e Sofrimento de 2008 e A Humilhação do Redentor, Sua morte e sepultamento todos pela editora Cultura Cristã.
Na obra O Habitat Humano, o que Dr. Campos faz é analisar os dois primeiros capítulos de Gêneses procurando ali aprofundar vários aspectos do paraíso originalmente criado por Deus quando o pecado ainda não havia entrado no mundo. Sua busca é fazer um contraste com o estado original da criação e seu estado caído atual. Ele divide o livro em cinco partes e estas em dez capítulos.
A primeira parte trata da realidade geográfica do Jardim. Nela Campos descreve a área do Éden, onde se localiza o Jardim. O livro todo é bem descritivo, porém em nenhum momento é cansativo. É interessante notar alguns aspectos da obra do Senhor que por vezes passam despercebidos.
A segunda parte do livro é dividida em quatro capítulos e todos tratam de uma maneira mais bem detalhada do Jardim. Dr. Campos analisa quatro aspectos dele. O primeiro é da rica flora plantada por Deus lá (Gn 2:9). Como é de se esperar, o autor faz uma análise das duas árvores mais importantes naquele lugar: a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal. Dr. Campos faz uma ótima análise dessas duas árvores e seus significados espirituais. O segundo aspecto é a provisão alimentícia no jardim. Apesar de ser bem curto, tendo praticamente duas páginas, é interessante notar como a região mais fértil que o mundo já possuiu é hoje uma área seca e desértica. O terceiro aspecto é a abundante irrigação do Jardim. Este é um dos capítulos mais interessantes do livro. Nele o autor trata dos quatro rios que regavam o Éden, a saber, Pison, Giom, Tigre e Eufrates (Gn 2:11-14). A análise se estende e faz uma abordagem arqueológica sobre quais seriam hoje esses quatro rios. É claro que a natureza dessa pesquisa é complicadíssima e só se pode haver suposições de quais seriam esses quatro rios. Uma das grandes complicações nessa pesquisa é fato de que não se sabe que mudanças geográficas o dilúvio trouxe ao planeta. O autor analisa as duas vertentes de pensamento sobre o assunto: a dos que acreditaram que houve grandes mudanças geográficas e a daqueles que pensam o oposto. Independente de qual das duas esteja correta, o fato é que há evidências da existência e localização dos quatro rios citados em Gênesis. O quarto aspecto analisado é a riqueza das terras do Jardim. A Bíblia relata que o Jardim é muito rico em ouro e outras pedras preciosas (Gn 2:11,12). A análise aqui novamente vai além de simplesmente relatar o que a Bíblia diz, mas o autor lida com a dificuldade apresentada no texto que é identificar as pedras citadas no livro.
Na terceira parte do livro, Dr. Campos mostra as qualidades morais do habitat humano. Essa parte é dividida em dois capítulos. O primeiro aspecto é a realidade do trabalho no paraíso de Deus. Quando Deus cria Adão, Ele não o coloca descansando em sombra e água fresca, ainda que houvesse muito disso lá, mas Deus dá ordens de trabalho a Adão! E a natureza do trabalho estabelecido por Deus era completa, ou seja, era um trabalho tanto físico quanto mental. Como parte do trabalho físico que estava sob sua responsabilidade, ele tinha que cuidar do jardim (Gn 2:15). E como parte mental, ou intelectual do trabalho, Adão teve a função de nomear todos os animais criados por Deus (Gn 2:19, 20). Sem dúvida uma abordagem excelente. O autor mostra muito bem que a ideia de um paraíso ocioso que muitas vezes é pensado e idealizado hoje vai de encontro as realidade estabelecida pelo Senhor nas Escrituras. Para uma realidade brasileira que constantemente procura o caminho mais curto para as resoluções de seus problemas, o autor foi muito feliz em mostrar que o trabalho não é algo proveniente do pecado, mas é algo criado e determinado por Deus e, por isso, é bom. O segundo aspecto é sobre a liberdade na criação original. Dr. Campos não entra na esfera filosófica sobre se Adão tinha ou não livre arbítrio. O que ele faz nessa parte do livro é retornar a realidade das árvores da vida e da do bem e do mal. Ele faz uma abordagem do homem habitando entre essas árvores e sua responsabilidade diante da ordem de Deus de que o homem não poderia comer do fruto da árvore do bem e do mal mostrando, assim, que a liberdade do homem era limitada por uma ordem direta de Deus. Sem dúvida esses dois capítulos são um dos melhores do livro, perdendo apenas para o próximo capítulo.
A quarta parte é constituída somente de um capítulo, porém é o maior do livro contendo mais de cinquenta páginas, ou seja, quase um terço do livro. Este capítulo fala das qualidades sociais do habitat humano na criação original. Sendo que havia apenas duas pessoas no Jardim, o autor desenvolve uma longa conversa sobre as intenções originais do relacionamento estabelecido por Deus na criação entre Adão e Eva. O autor começa falando de Adão e então nos chama a atenção ao ponto em que Deus viu que não era bom que o homem estivesse só (Gn 2:18). Ainda que tudo que Deus tinha criado fosse bom, Deus, em sua onisciência soberana, viu havia uma lacuna faltando. A presença da mulher no Jardim é algo intencional e proposital. Todos os detalhes dessa história, desde o momento específico da criação da mulher e até mesmo o modo que Deus a cria, há um significado maior. A perspectiva do autor é que todo o relato de Gênesis é histórico, porém, todos esses modos e momentos tinham uma razão de ser. Da mesma maneira que Deus usou um momento histórico na vida de Davi quando o fez um pastor de ovelhas e isso levou Davi a ver, através da relação de cuidado do pastor com suas ovelhas, o relacionamento de Deus com seu povo fazendo com que assim ele se expressasse, de maneira inspirada, e escrevesse o Salmo 23, o fato de Deus ter criado primeiro o homem e depois ter dado a tarefa a ele de nomear todos os animais e só então ter criado a mulher também tem seu propósito divino. Depois de ter visto todos os animas, Adão percebeu que não havia nenhum compatível com sua natureza. Ele estava só no Jardim, no sentido de que não havia com ele nenhum semelhante, pois todos os animais eram inferiores a ele e Deus era infinitamente superior a Adão. Partindo dessa necessidade, Deus tinha de criar alguém da mesma natureza de Adão. Por Adão exclamou quando viu a primeira vez Eva: “Esta, afinal, é ossos dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2:23).
Campos nos mostra vários princípios que estão inseridos no texto de Gênesis que nos são base para o casamento. Tanto o papel do homem quanto o da mulher e também o do casal, como uma só carne, é mostrado de uma maneira muito precisa e muito bonita nesse capítulo. Vemos como a sociedade pós-moderna está acabando com a família e com toda a seriedade do casamento, transformando um lugar de escolha e decisão em um lugar de tentativas. Sem dúvida um capítulo muito relevante para a realidade atual.
A quinta parte trata da realidade espiritual do habitat humano. Embora curtos, os dois capítulos que integram essa última parcela do livro são de igual modo bem escritos e bem pensados. A análise do autor é sobre o culto a Deus no Jardim e também sobre a perfeição deste lugar. Ambos os capítulos trazem informações muito importantes de se notar no texto. Aspectos realmente que passam despercebidos.
O Habitat Humano é um livro maravilhoso. Ainda que haja pouco material sobre o assunto tanto em português quanto em inglês, este livro foi muito bem escrito e será muito útil a todos os que querem se aprofundar sobre o paraíso criado por Deus.


[1] O autor é membro da Igreja Presbiteriana do Brasil.


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“Esta é a permuta que, em sua bondade infinita, ele quis fazer conosco: recebeu nossa pobreza, e nos transferiu suas riquezas; levou sobre si a nossa fraqueza, e nos fortaleceu com o seu poder; assumiu a nossa mortalidade, e fez nossa a sua imortalidade; desceu à terra, e abriu o caminho para o céu; fez-se Filho do homem, e nos fez filhos de Deus.” João Calvino
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