Como acabar com as guerras
“1De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? 2Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem. 3Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres. 4Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus. 5Ou vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes? 6Mas ele nos concede graça maior. Por isso diz a Escritura: ‘Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes’. 7Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês. 8Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração. 9Entristeçam-se, lamentem e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza. 10Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará. 11Irmãos, não falem mal uns dos outros. Quem fala contra o seu irmão ou julga o seu irmão, fala contra a Lei e a julga. Quando você julga a Lei, não a está cumprindo, mas está se colocando como juiz. 12Há apenas um Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e destruir. Mas quem é você para julgar o seu próximo?”
Tiago 4.1-12
INTRODUÇÃO
1. As guerras são uma realidade da vida a despeito dos acordos de paz. Há não apenas guerras entre as nações. Há também guerras nas denominações, guerras dentro das famílias e guerras dentro do nosso próprio coração.
2. Tiago diz que o nosso verdadeiro problema não está fora de nós, mas dentro de nós (v. 1; “19Pois do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias. 20Essas coisas tornam o homem ‘impuro’; mas o comer sem lavar as mãos não o torna ‘impuro’” Mt 15:19-20).
3. A guerra do Peloponeso, que durou 27 anos, destruiu a Grécia no ápice da grande civilização que ela havia criado como resultado da Idade de Ouro de Atenas. Roma fez da guerra uma maneira de viver, mas, apesar disso, foi vencida e destruída pelos bárbaros. Na Idade Média, a guerra varreu a Europa, culminando com os horrores da Guerra dos Trinta anos, terminada em 1648. Essa guerra é considerada o episódio militar mais horrível na história ocidental antes do século XX. Cerca de 7 milhões de pessoas ou seja, 1/3 dos povos de língua alemã morreram naquela guerra.
4. Na Primeira guerra Mundial 1914-1918 aproximadamente 30 milhões de pessoas pereceram. Todos ficaram horrizados. Mas dentro de vinte anos outra guerra foi lutada no mesmo anfiteatro, pelos mesmos participantes, por muitas das mesmas razões. A Segunda guerra mundial (1939-1945) resultou na perda de 60 milhões de vidas, enquanto os custos quadruplicaram de estimativa de 340 bilhões para 1 trilhão de dólares.
5. Assistimos a guerra fria entre comunismo e o capitalismo. Assistimos o maior massacre da história contra os cristãos através do comunismo. Assistimos sangrentas guerras tribais na África. Fratricidas guerras na Irlanda. Massacres no Oriente Médio. Hoje vemos o domínio bélico da América sobre seus rivais.
6. Essas guerras são uma projeção da guerra instalada no nosso próprio peito. Carregamos uma guerra dentro de nós. Desejamos o nosso próprio prazer à custa dos outros (v. 2). Em vez de lutar, devemos orar (v. 2-3).
7. Tiago descreve três tipos de guerras que enfrentamos:
I. EM GUERRA CONTRA AS PESSOAS – V. 1,11,12.
1. O Salmo 133:1 diz: “Oh como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!”. Certamente os irmãos deveriam viver unidos, em harmonia, mas muitas vezes, eles vivem em guerra. Os pastores de Ló entraram em contenda com os pastores de Abraão. Absalão conspirou contra o seu pai Davi. Os próprios discípulos geraram tensões entre si perguntando para Jesus quem era o maior. Às vezes, os membros da igreja entravam em contendas e levavam essas guerras para os tribunais (Conferir 1 Co 6:1-8). Na igreja da Galácia os crentes estavam se mordendo e se devorando (“Mas se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente” Gl 5:15). Paulo escreveu aos crentes de Éfeso para preservaram a unidade no vínculo da paz. Na igreja de Filipos duas mulheres líderes da igreja estavam em desacordo (Fp 4:1-3).
2. Tiago já havia denunciado a guerra de classes (v. 2:1-9). Os ricos recebiam toda a atenção e os pobres eram ignorados. Tiago também denunciou a guerra entre patrões e empregados (Conferir 5:1-6). Quando os ricos estavam retendo com fraude os salários dos ceifeiros. Tiago denuncia ainda a guerra dentro da igreja (v. 1:19-20). Os crentes estavam ferindo uns aos outros com a língua e com um temperamento descontrolado. Finalmente Tiago denuncia uma guerra pessoal (v. 4:11-12). Os crentes estavam falando mal uns dos outros e julgando uns aos outros. Nós precisamos examinar primeiro a nossa própria vida e depois ajudar os outros (Conferir Mt 7:1-5). Não somos chamados para sermos juízes. Deus é o nosso juiz. Seu julgamento é justo e santo.
3. O mundo vê essas guerras dentro das denominações, dentro das igrejas, dentro das famílias e isso é uma pedra de tropeço para a evangelização. Por isso Jesus orou pela unidade (“20Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, 21para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” Jo 17:20-21). Como podemos estar em guerra uns contra os outros se pertencemos à mesma família, se confiamos no mesmo Salvador, se somos habitados pelo mesmo Espírito? A resposta de Tiago é que temos uma guerra dentro de nós.
4. Cristãos em guerra (v. 1-2b) – Tiago aborda aqui três coisas:
1. Um fato – Há guerra entre os irmãos. Essa guerra representa o contínuo estado de hostilidade e antagonismo.
2. Uma causa – Os prazeres que militam na carne. Tiago diz que os nossos desejos são como um campo armado pronto para guerrear.
3. Uma prática – A cobiça.
II. EM GUERRA CONTRA NÓS MESMOS – V. 1b-3
1. A fonte de todas essas guerras está dentro do nosso próprio coração (v. 1; 3:14,16). A essência do pecado é o egoísmo. Eva caiu porque quis ser igual a Deus. Abraão mentiu porque queria se proteger (Conferir Gn 12:10-20). Acã causou derrota a Israel porque egoisticamente tomou o que era proibido. Somos como Tiago e João, queremos lugar especial no trono.
2. Desejos egoístas são coisas perigosas. Eles levam a ações erradas (v. 2). E eles levam a orações erradas (v. 3). Quando as nossas orações são erradas, toda a nossa vida está errada. Nossas orações não são respondidas quando há guerras entre os irmãos e paixões dentro do coração.
3. Orações não respondidas – Tiago muda da nossa relação horizontal para a nossa relação vertical. Quando temos guerra com os irmãos, temos a comunhão interrompida com Deus. Enquanto a oração seria a solução (v. 2b), mas na prática a oração não funciona (v. 3a) porque ela está motivada pela mesma razão que provoca as contendas (v. 3b).
4. Não cobiçarás é o décimo e último mandamento da lei. Quebramos toda a lei quando quebramos esse mandamento. Desejo egoista e oração egoísta conduzem à guerra. Se há guerra do lado de dentro, haverá guerra do lado de fora.
5. Pessoas que estão em guerra consigo mesmas, são infelizes.
III. EM GUERRA COM DEUS – V. 4-10
A raiz de toda a guerra é rebelião contra Deus. Mas como um crente pode estar em guerra contra Deus? Cultivando amizade com os inimigos de Deus. Tiago cita três inimigos com quem não podemos ter amizade se desejamos viver em paz com Deus.
Tiago fala de tentações que estão fora de nós (o mundo e o diabo) e tentações que estão dentro de nós (a carne).
1. O mundo (v. 4)
O mundo aqui é a sociedade humana com seus valores, princípios, filosofia vivendo à parte de Deus. Esse sistema que rege o mundo é anti-Deus. Se o mundo valoriza a riqueza, começamos a valorizar a riqueza também. Se o mundo valoriza o prestígio, começamos a valorizar o prestígio. Temos a tendência de assimilar esses valores do mundo.
Um crente pode tornar-se amigo do mundo gradativamente: Primeiro, sendo amigo do mundo (4:4). Segundo, sendo contaminado pelo mundo (1:27). Terceiro, amando o mundo (“15Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. 16Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo. 17O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” 1 Jo 2:15-17). Quarto, conformando-se com o mundo (“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” Rm 12:2). O resultado é ser condenado com o mundo (“Quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo” 1 Co 11:32). Então, seremos salvos como que através do fogo (“11Porque ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo. 12Se alguém constrói sobre esse alicerce, usando ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha, 13sua obra será mostrada, porque o Dia a trará à luz; pois será revelada pelo fogo, que provará a qualidade da obra de cada um. 14Se o que alguém construiu permanecer, esse receberá recompensa. 15Se o que alguém construiu se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo como alguém que escapa através do fogo” 1 Co 3:11-15).
Amizade com o mundo é uma espécie de adultério espiritual. O crente está casado com Cristo (“Assim, meus irmãos, vocês também morreram para a lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerem a outro, àquele que ressuscitou dos mortos, a fim de que venhamos a dar fruto para Deus” Rm 7:4) e deve ser fiel a ele (“Pois o seu Criador é o seu marido, o Senhor dos Exércitos é o seu nome, o Santo de Israel é seu Redentor; ele é chamado o Deus de toda a terra” Is 54:5. Conferir Jr 3:1-5, Ez 23, Os 1-2; “Eu os elogio por se lembrarem de mim em tudo e por se apegarem às tradições, exatamente como eu as transmiti a vocês” 1 Co 11:2). O mundo é inimigo de Deus e ser amigo do mundo é constituir-se em inimigo de Deus.
Não dá para ser amigo do mundo e de Deus ao mesmo tempo.
2. A carne (v. 1,5)
A carne é a nossa velha natureza. A carne não é o corpo. O corpo não é pecaminoso. Podemos usar o corpo para glorificar a Deus ou para servir ao pecado. Na conversão recebemos uma nova natureza, mas não perdemos a velha. Ela precisa ser crucificada. Essas duas naturezas estão em conflito (“Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam” Gl 5:17). É isso que Tiago diz no v. 1.
Há paixões carnais que buscam nos colocar em guerra contra Deus. Devemos fugir dessas paixões (“Fujam da imoralidade sexual. Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo os comete; mas quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio corpo” 1 Co 6:18. “Fuja dos desejos malignos da juventude e siga a justiça, a fé, o amor e a paz, juntamente com os que, de coração puro, invocam o Senhor” 2 Tm 2:22). Fugir aqui não é um gesto desprezível. José do Egito fugiu da mulher de Potifar. A única maneira de vencer as tentações da carne é fugindo. Fugir do lugar, do ambiente. Viver na carne significa entristecer o Espírito Santo que vive em nós (v.5; “Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção” Ef 4:30).
O Espírito de Deus habita em nós e anseia por nós com zelo (v. 5). Ele não nos divide com ninguém. Estamos casados com Cristo. Você levaria Cristo para uma sala de jogos, para uma boate, para um show do mundo, para uma intimidade sexual fora do casamento?
3. O diabo (v. 6-7)
O mundo está em conflito com o Pai. A carne em luta contra o Espírito e o diabo se opõe ao Filho de Deus.
O pecado predileto do diabo é a vaidade, o orgulho. Ele tenta as pessoas nessa área (v. 6-7). Ele tentou Eva e tenta os novos crentes (“Não pode ser recém-convertido, para que não se ensoberbeça e caia na mesma condenação em que caiu o diabo” 1 Tm 3:6). Deus quer que dependamos dele enquanto o diabo quer que dependamos de nós. O diabo gosta de encher a nossa bola. O grande problema da igreja hoje é que temos muitas celebridades e poucos servos. Há tanta vaidade humana que não sobra espaço para a glória de Deus.
4. Como podemos vencer esses três inimigos?
O caminho de uma graça maior – v. 6 – Deus está incansavelmente do nosso lado. Ele sempre nos dá graça suficiente para vencer. Mas a graça de Deus não nos isenta de responsabilidade. Nos versos 7-10 há dez mandamentos para obedecer. A graça não nos isenta da obediência. Quanto mais graça, mais obediência.
a) Submetendo-nos a Deus (v. 7)
Essa palavra é um termo militar que significa fique no seu próprio posto, ponha-se no seu lugar. Quando um soldado quer se colocar no lugar do general ele tem grandes problemas. Renda-se incondicionalmente. Ponha todas as áreas da sua vida sob a autoridade de Deus. Por isso um crente rebelde não pode viver consigo nem com os outros.
Davi pecou contra Deus, adulterando, matando Urias e escondendo o seu pecado. Mas quando ele se humilhou, se submeteu e confessou, encontrou paz novamente com Deus.
b) Resistindo ao diabo (v. 7)
O diabo não é para ser temido, mas resistido. Somente quem se submete a Deus pode resistir ao diabo. A Bíblia nos ensina a não dar lugar ao diabo (“e não dêem lugar ao diabo” Ef 4:27).
c) Mantendo-nos perto de Deus (v. 8)
Quanto mais perto de Deus ficamos, mais parecidos com Jesus nós nos tornamos. Comunhão com Deus é uma pista de mão dupla. Quando nos chegamos a Deus, ele se chega a nós. Não podemos ter comunhão com Deus e com o pecado ao mesmo tempo (v. 8b).
Comunhão com Deus implica em purificação (v. 8b)
d) Humilhando-nos diante de Deus (v. 9-10)
Temos a tendência de tratar o nosso pecado de forma muito leve e condescendente. Tiago exorta-nos a enfrentar seriamente o nosso pecado (v. 9). A porta da exaltação é a humilhação diante de Deus (v. 10). Deus não despreza o coração quebrantado (“Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás” Sl 51:17).
Deus olha para o homem que é humilde de coração e treme diante da Palavra de Deus (“...pergunta o Senhor. ‘A este eu estimo: ao humilde e contrito de espírito, que treme diante da minha palavra’” Is 66:2).
Quando estamos em paz com Deus, temos paz uns com os outros e uma fonte de paz jorrando de dentro de nós!
Esta série de sermões foi extraída do site Palavra da Verdade. Todos os sermões foram pregados pelo Reverendo Hernandes Dias Lopes.
Para ler, ouvir e assistir mais sermões acesse:
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“Esta é a permuta que, em sua bondade infinita, ele quis fazer conosco: recebeu nossa pobreza, e nos transferiu suas riquezas; levou sobre si a nossa fraqueza, e nos fortaleceu com o seu poder; assumiu a nossa mortalidade, e fez nossa a sua imortalidade; desceu à terra, e abriu o caminho para o céu; fez-se Filho do homem, e nos fez filhos de Deus.” João Calvino
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