O livro é
dividido em duas partes, assim como essa resenha.
Parte I – O Pastor-Mestre
Em uma leitura
bastante agradável desse primeiro capítulo pude confirmar algumas coisas que já
havia pensado, observado e sentido. A primeira é que a vocação para o
ministério não é algo místico. Ou seja, ela não é um impulso desenfreado que
nos agarra de tal maneira que tudo que podemos fazer é largar o que estamos
fazendo e irmos para o púlpito. Por mais que as experiências dos apóstolos não
excluam esse tipo de chamado na história, acredito que eles estavam em uma
ocasião bastante especial e única, que poucos tiveram o privilégio de estar.
Acredito que a forma convencional que Deus usa para chamar homens ao pastorado
é progressiva e cheia de fazes onde cada uma é especialmente relevante para a
formação intelectual e para a maturidade de cada ministro do Evangelho.
O trabalho de
um pastor é difícil, pois aquele que acha que tem essa vocação está diante de
um grande desafio. O pastor tem uma série de atribuições que lhe tornam o
pastorado uma tarefa para poucos. Um pastor tem de ser capaz de confortar
pessoas em momentos de grande tribulação. Ele tem de ser capaz de corrigir
amigos, os submetendo a disciplina das Escrituras. Ele tem de ser um
administrador para que a igreja possa sempre ser melhorada tanto fisicamente
como espiritualmente. Ele tem de ser um bom líder para que o rebanho. E ele tem
de ser uma pessoa intelectualmente capaz. Preparar um sermão não é algo fácil.
A Bíblia é um livro que requer um bom tempo de estudo para que a mensagem
pregada seja fidedigna. Muitos pensam que a Bíblia é um simples livro de
autoajuda, onde só é recorrido quando se quer algo. Porém a infinidade dos
livros na biblioteca cristã da história mostra que a Bíblia é o livro mais rico
que existe. É uma fonte inesgotável de conhecimento. É de uma profundidade
inalcançável. É um livro de fortíssima argumentação lógica. Documentos
históricos inerrantes. Esse é o grande desafio intelectual do pastor. Está apto
para ensinar a profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus é
uma tarefa que exige muita dedicação e, principalmente, uma grande dependência
do Espírito Santo.
O pastorado
não é um empecilho à erudição. Os dois podem andar de mãos dadas. Porém a
erudição não é algo que toda pessoa pode alcançar. Há uma séria de qualidades
que um erudito necessita ter para que exerça com maestria a verdadeira
erudição. Piper, citando Mortimer Adler, em seu livro Como Ler Livros, mostra a tarefa do verdadeiro erudito. Algo
bastante valioso que ele mostra é que “a
muita leitura não é essencial a verdadeira erudição, e sim a análise lógica,
frequente, detalhada, e meticulosa de grandes textos” (pág. 44). Embora Piper reconheça que por não
conseguir ler rápido ele não conseguiria alcançar a erudição em seus níveis
mais altos.
Algo que me
fez pensar e analisar minhas atitudes como um líder na leitura. Esse não era o
objetivo do John ao escrever isso, porém não pude deixar de olhar para mim
mesmo e fazer uma autoanálise após a leitura do trecho que se encontra nas
páginas 71 72. John narra um uma visita a uma igreja na Carolina do Norte, onde
o pregador repreende a congregação para que eles venham às reuniões da semana e
que contribuam com o dízimo. Não pude deixar de perceber o mesmo tipo de
atitude em mim. Quando li isso o que veio a minha cabeça foi o seguinte: “eu penso da mesma forma que esse pregador!”. Agradeço ao Senhor por Ele ter me dado
sabedoria até aqui, pois acredito que tenha tomado esse tipo de atitude mais em
minha mente do que realmente na prática. Como isso mexeu comigo! Como pude
pensar que por brigar com alguém eu poderia impor pela força algo que ela não
entende? Em vez disso, eu tenho que mostrar como é bom se alegrar na Lei do
Senhor, assim como Davi fazia. Fazer isso primeiro biblicamente e em seguida
com o meu próprio exemplo. À medida que o tempo passa a expressão tão amada por
Piper se torna cada vez mais Bíblica para mim. Deus é mais glorificado em nós quando nós somos mais satisfeitos nele.
Deus instituiu
algumas pessoas para estudarem a fundo sua Palavra. Acredito que ele faz isso
primeiramente para o fortalecimento da sua igreja, mas também para envergonhar
o mundo. O pastor é um especial servo de Deus, que Ele separou para uma função
única na vida de qualquer ministro, alimentar e cuidar do povo de Deus. A
erudição e o academicismo não são funções que estão excluídas daqueles que
escolheram o pastorado. Agostinho, Calvino e Edwards são grandes nomes de
pastores amorosos pelo seu povo e de teólogos do mais alto nível e, até hoje,
suas obras são importantes para o cristianismo. Que mais pastores queiram e
busquem o mais alto nível de erudição, mas que eles busquem sempre edificar a
igreja em seus estudos.
Parte II – O Mestre-Pastor
É notável a
diferença na escrita dos dois autores deste livro. Ainda que Piper nos fale da
importância intelectual na vida pastoral, ele faz isso de maneira envolvente e
calorosa como se nós estivéssemos tendo uma sessão de aconselhamento. Já o
Carson, com a sua brilhante mente erudita, mostra na prática aquilo que Piper mostrou
ser a tarefa do verdadeiro erudito no capítulo anterior. Em uma abordagem ampla
e tão profunda quanto se pode ser nesse espaço, Carson mostra como o erudito
cristão deve se portar em diversas situações práticas da vida de um acadêmico e
como o seu trabalho deve estar inerentemente ligado à vida da igreja.
Um mestre, de
maneira nenhuma, é um cristão que vive sozinho nos corredores de uma
universidade, ou enfurnado em seu escritório, onde a única companhia são seus
livros. Pelo contrário, ele deve ser um homem da igreja. Ele deve amar a
igreja. Deve ter em mente que todo o seu trabalho é para auxiliar os pastores,
seus alunos, que virão a ser pastores, e os próprios membros das igrejas.
O estudo
erudito da Bíblia traz perigos para aqueles que querem seguir esse caminho.
Carson dá um grande enfoque nesse ponto trazendo vários alertas para aqueles
que sentem esse chamado. O mundo acadêmico é um lugar em que pode em um momento
te elevar a um alto grau de respeito como um grande pensador cristão e no outro
pode destruir sua carreira. Como foi citado por Piper no capítulo passado o
caso de Geord Ladd (pags. 42 e 43), em que sua carreira quase foi destruída por
uma crítica feita ao seu livro Jesus e o
Reino, a qual só foi reestabelecida quase dez anos depois com publicação de
sua magnífica obra Teologia do Novo
Testamento (Editora Hagnos).
A arrogância
do muito conhecimento é outro grande perigo que ele enfatiza. A busca pelo
respeito da academia em vez do respeito dos seus irmãos em Cristo, da igreja e,
principalmente, do Próprio Deus é algo a ser enfrentado e vencido. A busca do
aplauso e a busca do respeito acadêmico não deve ser o foco de nenhum mestre.
Há ainda a
tentação de se sentir mais próximo de Deus ou mais importante que seus irmãos
em Cristo devido ao elevado nível acadêmico conquistado ou ao grande
conhecimento que atingiu das Escrituras. Acha que, por isso, está mais próximo
a Deus. Uma frase que resume bem o pensamento do Carson sobre isso é a
seguinte: “Nada é tão enganoso como a
mente evangélica erudita que pensa estar especialmente próximo a Deus por causa
de sua erudição, e não por causa de Jesus” (pag. 88). A erudição evangélica
e o maior conhecimento das Escrituras devem conduzir a piedade e amor a Cristo
e sua Noiva. O conhecimento de Deus deve levar a humilhação pessoal e a
piedade, pois o mesmo conhecimento deve nos levar a quão perdidos e
necessitados de Cristo nós somos.
Todo o
trabalho de um pastor deve ser voltado para a glória de Deus e para a
edificação da igreja. O trabalho de um mestre não é diferente. Seu objetivo é
auxiliar os pastores na condução do rebanho a Cristo. Há diferentes formas de
fazer isso, e uma delas é dedicando-se ao estudo de sua Palavra a um nível que
muitas vezes os pastores não conseguem fazer. Quer seja pela falta de tempo
pelas atribuições devidas de um bom pastor, quer seja pelas limitações de cada
um. Deus, em sua infinita sabedoria, levanta homens de grandioso amor pela sua
obra e Reino, e os capacita com uma grande perspicácia de olharem para o texto Bíblico
de uma maneira mais profunda e elevada. Estes homens auxiliam os pastores
levando para as suas mãos trabalhos que foram feitos com a mais preciosa
dedicação e erudição possível.
Conclusão
Todo
pastor-mestre e todo mestre-pastor tem sua importante tarefa dentro da igreja
de Cristo. Essa não é uma tarefa fácil, mas é algo que deve ser encarado com
grande alegria e satisfação, pois, não há honra maior para o homem do que ser
um arauto do Evangelho de Cristo. Que Cristo, o Grande Pastor-Mestre, seja o
alvo de vida e ministério de todos os pastores. Que sua Piedade, Santidade e
Fidelidade ao Pai sejam imitadas. Que Cristo, o Grande Mestre-Pastor, seja a
grande referência de como o maior erudito deva se comportar diante da academia
e da igreja. Que seu amor pela Igreja, Humilde e Paciência sejam sempre
imitado. Que Cristo, o Grande Pastor e Grande Mestre, seja para sempre adorado.
Amém.
Hélio
Sales,
20
de Maio de 2012.
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“Esta é a permuta que, em sua bondade infinita, ele quis fazer conosco: recebeu nossa pobreza, e nos transferiu suas riquezas; levou sobre si a nossa fraqueza, e nos fortaleceu com o seu poder; assumiu a nossa mortalidade, e fez nossa a sua imortalidade; desceu à terra, e abriu o caminho para o céu; fez-se Filho do homem, e nos fez filhos de Deus.” João Calvino
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